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segunda-feira, 21 de maio de 2012

QUE TAL UM PLANO DE RELACIONAMENTO VOLTADO PARA A COMUNIDADE ESCOLAR COMO TÁTICA DE FIDELIZAÇÃO DE ALUNOS E PROFESSORES

POR EDUARDO GIRÃO A escola é sem dúvida uma organização capaz de ser ao mesmo tempo educativa, socializadora e política. São poucas as instituições que reúnem num mesmo espaço valores tão importantes para a formação do ser humano. Apesar de estar passando por profundas modificações, sobretudo pela influência da mídia e das inovações tecnológicas, continua sendo para muitos um lugar de discussão, aprendizado e reflexão. Porém, para continuar exercendo sua importância na sociedade, é preciso repensar estratégias visando a melhoria do relacionamento com seu público-alvo, evitando assim a evasão escolar, apatia e desinteresse do alunato. Um dos desafios é garantir aos alunos a escolha de serviços educacionais de qualidade e diferenciados de acordo com suas necessidades e interesses. Então, que objetivos educacionais a escola deve procurar atingir? Que experiências podem ser oferecidas? Como organizá-las eficientemente? De que forma desenvolver ações que permitam fidelizar alunos e pais? E como estreitar relacionamentos satisfatórios entre todos os envolvidos? Diante dessas questões, é necessário repensar alguns paradigmas pedagógicos. Reformular os programas pedagógicos, flexibilizar as estruturas de ensino, criar interdisciplinaridade dos conteúdos, melhorar o relacionamento da instituição com outras esferas sociais e com a comunidade de entorno, estimular a cooperação, interatividade e o respeito às diferenças são algumas observações que podem contribuir para a melhoria da educação básica. A gestão envolvendo aspectos políticos, pedagógicos e administrativos desse novo contexto histórico implica a adoção de novas formas de decisão, mais rápidas e menos burocráticas, garantindo maior autonomia para todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Quanto aos docentes, é importante a valorização da formação continuada, a revisão dos métodos e conteúdos de ensino, a reflexão crítica das hierarquias escolares, a organização dos tempos dentro e fora da sala de aula. Alguns educadores da EEF Honório Bezerra já tentam equilibrar métodos da pedagogia tradicional - considerada resistente à utilização das mídias como parte do processo educativo - com a pedagogia moderna - mais flexível às novidades tecnológicas. Apesar do esforço, ainda há muita rejeição, dúvida e medo por parte dos professores em apoiar essas mudanças. Sabendo que cada vez mais os estudantes necessitam de respostas rápidas as suas inquietações e procuram soluções capazes de melhorar sua rotina, na EEF Honório Bezerra, a estratégia adotada foi tentar se diferenciar das outas escolas públicas fazendo uso das novas mídias. Há 3 anos, o blog www.honoriobezerra.blogspot.com foi criado com o objetivo de estimular o protagonismo juvenil na comunidade, a fim de fazer com que os alunos pudessem atuar como agentes participativos, interligando conteúdos midiáticos aos das disciplinas tradicionais e divulgando os eventos, projetos e atividades escolares nas redes sociais. O resultado trouxe publicidade à escola o que não foi suficiente para resolver problemas como a diminuição do número de matrículas e evasão escolar. Para a implementação de um plano de relacionamento que satisfaça os envolvidos, políticas públicas precisam ser repensadas e colocadas em prática. Nesse caso, o apoio dos governos Federal e Estadual é essencial no fortalecimento dos recursos humanos, tecnológicos e de infraestrutura. A realização de ações de relacionamento é fundamental para qualquer instituição de ensino que pretenda atender as expectativas de seus alunos e desenvolver melhor o seu papel na comunidade. Além de gerar conhecimento sobre o público-alvo, a estratégia poderá também oferecer informações que busquem a fidelização dos envolvidos. Referencial Bibliográfico CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999 (Volume 1). Prólogo e Capitulo 1. KENSKI, Vani Moreira. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informática. Campinas: Papirus, 2007. PRADO, Maria Elisabette B. B.; ALMEIDA, M. E. B.: Desafios e possibilidades da integração de tecnologias ao currículo. São Paulo, 2008. Disponível em: . Acesso em: 12 de mai. 2012.

segunda-feira, 26 de março de 2012

MOTOCICLETA, UM RISCO PARA A VIDA

Por Eduardo Girão
É indiscutível a descoberta da motocicleta como um dos meios de transporte mais procurados pelos brasileiros, sobretudo da classe C. Motivos não faltam para a alta demanda: baixo custo de aquisição e despesas moderadas com sua manutenção. Para ter uma ideia, a indústria brasileira produziu no ano passado 2.137.417 motocicletas, volume 16,8% superior ao registrado no ano anterior. Os dados foram divulgados pela Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) e preveem que, para 2012, o mercado deva continuar aquecido, mesmo diante da crise europeia. São números que impressionam e justificam o posicionamento do Brasil como quinto maior produtor mundial de motocicletas. Caso a economia brasileira permaneça em crescimento com desemprego em baixo, inflação controlada e queda das taxas de juros, o mercado de motocicletas tende a continuar em alta.
Por outro lado, o aumento do número de acidentes envolvendo motocicletas vem pressionando a sociedade civil a discutir medidas que possibilitem diminuir a violência no trânsito. No Ceará, nos últimos nove anos, o número de atendimentos de vítimas de acidentes de moto no Instituto José Frota aumentou quase 1000%. Somente em 2011, 7985 pessoas sofreram acidentes com motos. Em 72% dos casos, o acidentado apresenta invalidez permanente. Na tentativa de diminuir os índices - mesmo de forma tímida, novas leis estão sendo tramitadas no Congresso Nacional e também nas Assembleias Legislativas e Câmeras Municipais. Proibir motociclistas de pilotarem entre os carros (nos corredor) é uma das leis que poderão entrar em vigor brevemente no País. Em São Paulo, a Prefeitura instituiu um Kit Obrigatório (capacete, luvas, botas, etc.) para uso nas ruas e avenidas da cidade. A saída foi elogiada por quem entende do assunto. Outras medidas paliativas também estão sendo adotadas nas demais capitais.
A falta de empenho das autoridades em resolver os problemas do trânsito não diminui a sede de consumo dos brasileiros. Segundo a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, o IPEA e o Instituto Ipsos, 20 milhões de pessoas melhoraram seu poder aquisitivo e somaram-se à parcela que hoje representa metade da população brasileira. A verdadeira classe média ganha em média R$ 2.600,00 e na grande maioria dos casos estudou a vida toda em escola pública. O perfil é um indicativo que as mudanças podem se transformar em boas oportunidades de ganho para as montadoras. Apesar da lucratividade, o setor também está sendo alvo constante de críticas por investir pouco em segurança e promover poucas campanhas de responsabilidade social. O dever é de todos.
Ficou claro que o estilo de vida do brasileiro mudou (as mulheres conquistaram o mercado de trabalho, o Nordeste deixou de ser um entrave e agora chama a atenção do restante do país, etc.), mas a violência no trânsito continua a assombrar os cidadãos. Motoristas, pilotos, ciclistas ou pedestres, não importa, a sociedade espera que seus representantes estejam mais bem preparados para agilizar as reais mudanças sociais, ambientais e econômicas que todos necessitam, que saibam empregar bem o dinheiro público.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

UM DIA NA HB


RELEASE
Um Dia na HB conta a história da EEF Honório Bezerra através de depoimentos de professores, alunos, funcionários e núcleo gestor. Quem são os principais personagens e quais as atividades realizadas pela instituição são algumas das questões chaves discutidas no documentário realizado pelos alunos repórteres sob a direção do professor Eduardo Girão. O vídeo é uma oportunidade de conhecer a rotina de uma das escolas públicas mais atuantes do Estado do Ceará que tem como missão educar para a vida.
FICHA TÉCNICA
Direção Geral – Eduardo Girão
Edição – Judá Martins & Eduardo Girão
Texto/Roteiro – Eduardo Girão
Câmera – Eduardo Girão & Gisely Spinosa
Agradecimento – A Deus, professores, alunos, funcionários e núcleo gestor
ALUNOS PARTICIPANTES
André Pacello
Ana Catarina
Beatriz Vieira
Fernando do Nascimento
Gisely Spinosa
Isabel Cristina
Jamilly Rodrigues
Joquebede Gabriela
Latifa Pires
Lucas dos Santos
Marcos Breno
Maxwell Almeida
Paloma Neres
Robson Oliveira
Vitória Cavalcante
NÚCLEO GESTOR
Direção Geral
Lúcia Helena Gomes Prata
Coordenação Pedagógica
Lúcia de Fátima Deodato Soares
Secretaria
Vera Lúcia F. Vasconcelos
CONTATO
www.honoriobezerra.blogspot.com
Rua: Capitão Nestor Goes, 400 - Bairro Ellery
CEP: 60.320-380
Fone: (85) 3281-0865; (85) 3101-2255
e-mail: hbezerra@escola.ce.gov.br
honoriobezerra@gmail.com
Inep 23069538

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

PRATICAS EDUCOMUNICATIVAS NAS ESCOLAS

Por Eduardo Girão
A existência da tecnologia na rotina do povo brasileiro é um fato que merece nossa atenção. Segundo o Comité Gestor da Internet no Brasil (2010), 98% das residências brasileiras possuem TV; 86%, rádio; 1/3, computador; 26%, internet em casa. De acordo com vários depoimentos no Wave Festival 2009, ficamos mais de 24 horas/mês na web. Os 145 milhões de internautas nacionais passam, por semana, sete horas lendo notícias, três horas assistindo a vídeos, 11 horas em programas de mensagem instantânea (Skype e MSN) e 60% estão em redes sociais, principalmente no Orkut e Facebook.
Em 2008, a pesquisa “O futuro da mídia”, do Deloitte e Harrison Group (Deloitte, 2009:4-10) com pessoas das gerações Y (14-25 aos), X (26-42 anos), baby boom (45-61 anos) e madura (62-75 anos), confirma a dominância dos jovens nesses meios, sendo que para 81% o computador superou a televisão como fonte de entretenimento: jogos são importantes formas de diversão para 58% dos entrevistados e 83% produzem seu próprio conteúdo usando programa de edição de fotos, vídeos e músicas.
Numa época onde a vida dos jovens se faz presente em torno da tecnologia, a escola precisa estar atenta às mudanças ocorridas na sociedade e aprender a usufruir das novas possibilidades de comunicação sem deixar de lado o conhecimento científico adquirido. Um dos desafios dos docentes hoje é unir o processo pedagógico às inovações tecnológicas na tentativa de diminuir a distância entre professores e alunos.
É nesse cenário que um novo campo teórico-prático começa a ser observado, o da educomunicação:
No espaço educativo, a gestão da comunicação deve tratar do planejamento, execução e realização de procedimentos e processos que criam ecossistemas comunicativos a fim de aproveitar o espaço escolar para o exercício do livre fluxo democrático da informação, além de preparar os estudantes para uma leitura crítica dos conteúdos disseminados pelos meios de comunicação de massa. Mas as práticas educomunicativas vão muito além de capacitar seus atores a uma análise crítica da mídia. Mais do que isso, incentivam o “protagonismo infanto-juvenil”, ou seja, o educando passa a ser ator principal de seu próprio processo de desenvolvimento intelectual. Nessa perspectiva, o aluno passa a atuar diretamente na construção de processos comunicativos na escola e com a comunidade escolar de entorno (MAROS; SCHMIDT; MACIEL, 2010, p. 2-3).
Experiências bem sucedidas entre a Comunicação e Educação podem apontar um caminho na diminuição dos índices de evasão, reprovação e violência escolar. O educador Paulo Freire (apud FERRARI, 2009, p.2) criticava a ideia de que ensinar é transmitir saber, porque para ele a missão do professor era possibilitar a criação ou a produção de conhecimentos. O autor da pedagogia do oprimido defendia como objetivo da escola ensinar o aluno a “ler o mundo” para poder transformá-lo. Paulo Freire (apud MAROS; SCHMIDT; MACIEL, 2010, p. 2) alertava para “a necessidade de enxergar a comunicação como elemento fundamental no processo educativo, pois é ela que transforma seres humanos em Sujeitos”.
Acredita-se que ao realizar ações simples como instigar o senso crítico dos alunos com exibição de filmes ou incentivá-los a criar conteúdos (textos, vídeos, fotos) para postagem no blog escolar, entre outras práticas, esse profissional - ainda pouco conhecido nas escolas públicas cearenses –, chamado de educomunicador, possa contribuir para a formação dos estudantes.
Entretanto, a questão requer um estudo mais profundo, obriga a pensar uma trama nova de territórios, atores, contradições e conflitos. É fundamental pesquisar sobre as ações educomunicativas realizadas nas escolas para que se possa trazer a tona novos procedimentos e coletas de explicação da realidade como também entender uma série de tendências sociais, políticas e científicas que merecem ser discutidas. É preciso considerar que a educação que despreza os conhecimentos reunidos à tecnologia estará frustrando as expectativas de qualquer educando que tenha por objetivo maior sua formação, consequentemente servir à sociedade.

Fontes Bibliográficas

DELOITTE. Redes de um mundo mais completo. Mundo Corporativo, n.24. abr./jun.2009. Disponível em: . Acesso em: 08 out. 2011.

FERRARI, Márcio. Jean Piaget: o biólogo que pôs a aprendizagem no microscópio. Nova Escola, São Paulo, jul. 2008. Edição especial grandes pensadores. Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2011.

MADEIRA, Fernando. M&M online – Podcast – Terra. 13 de maio 2009. IN: Cobertura do Wave Festival. Disponível em: . Acesso em: 1 out. 2009.

MARINHO, L. Alberto. Comité Gestor da Internet no Brasil – Revista Gol ed. Mai 2010/col. p. 130.

MAROS, Cristine; SCHMIDT, Patrícia; MACIEL, Marília Crispi de Moraes. Contribuições da educomunicação para a escola como espaço de comunicação participativa e de educação dialógica. POIÉSIS – Revista do Programa de Pós-graduação em Educação – Mestrado – Unisul, Tubarão, v.3, n.5, p.29-45, já./jun. 2010.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

FERAS DAS ARTES PLÁSTICAS: ALDEMIR MARTINS E MESTRE NOZA


CANGACEIRO (1969/1970)
Por Eduardo Girão
O desenho passa a ideia de um cangaceiro ereto, forte, central, personagem colossal, respeitado e temido. As cicatrizes do rosto denunciam o cangaço, o sol forte, desgaste.
A obra é composta por um cangaceiro – um homem em pé vestido a caráter (chapéu de couro e roupa do cangaço). O desenho preenche o quadro em primeiro plano, a figura está quase que centralizada, porém o olhar e a cabeça do personagem (levemente inclinada) estão mais para a esquerda.
São poucos os espaços vazios (quase não há). É uma figura verticalizada – uma postura típica do homem dando uma ideia de movimento. Também pode conter ideia de elevação e transcendência – não é à toa que o homem do cangaço é hoje visto como um mito, semideus.
O peso do desenho está na parte superior do quadro (do centro para a superfície).
Em relação as linhas, por mais que incertas algumas vezes, são únicas e não duplicadas (algumas mais claras, outras mais escuras, longas, curtas e arredondadas). A junção das linhas constroem a figura retratada.
Há ainda muitos traços rápidos na superfície da imagem criando textura crua – típica do Nordeste brasileiro. Na tela, não há lugar para a perfeição. Há lugar para emoção – olhar que transmite história, passado e dor. O artista foi claro na sua proposta destacando as linhas, ao invés das cores.

ALDEMIR MARTINS
O artista plástico Aldemir Martins nasceu em Ingazeiras, no Vale do Cariri, Ceará em 8 de novembro de 1922. A sua vasta obra, importantíssima para o panorama das artes plásticas no Brasil, pela qualidade técnica e por interpretar o “ser” brasileiro, carrega a marca da paisagem e do homem do nordeste.
O talento do artista se mostrou desde os tempos de colégio, em que foi escolhido como orientador artístico da classe. Aldemir Martins serviu ao exército de 1941 a 1945, sempre desenvolvendo sua obra nas horas livres. Chegou até mesmo à curiosa patente de Cabo Pintor. Nesse tempo, freqüentou e estimulou o meio artístico no Ceará, chegando a participar da criação do Grupo ARTYS e da SCAP – Sociedade Cearense de Artistas Plásticos, junto com outros pintores, como Mário Barata, Antonio Bandeira e João Siqueira.
Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1946, para São Paulo. De espírito inquieto, o gosto pela experiência de viajar e conhecer outras paragens é marca do pintor, apaixonado que é pelo interior do Brasil. Em 1960/61, Aldemir Martins morou em Roma, para logo retornar ao Brasil definitivamente.
O artista participou de diversas exposições, no país e no exterior, revelando produção artística intensa e fecunda. Sua técnica passeia por várias formas de expressão, compreendendo a pintura, gravura, desenho, cerâmica e escultura em diferentes suportes. Aldemir Martins não recusa a inovação e não limita sua obra, surpreendendo pela constante experimentação: o artista trabalhou com os mais diferentes tipos de superfície, de pequenas madeiras para caixas de charuto, papéis de carta, cartões, telas de linho, de juta e tecidos variados - algumas vezes sem preparação da base de tela - até fôrmas de pizza, sem contudo perder o forte registro que faz reconhecer a sua obra ao primeiro contato do olhar.
Seus traços fortes e tons vibrantes imprimem vitalidade e força tais à sua produção que a fazem inconfundível e, mais do que isso, significativa para um povo que se percebe em suas pinturas e desenhos, sempre de forma a reelaborar suas representações. Aldemir Martins pode ser definido como um artista brasileiro por excelência. A natureza e a gente do Brasil são seus temas mais presentes, pintados e compreendidos através da intuição e da memória afetiva. Nos desenhos de cangaceiros, nos seus peixes, galos, cavalos, nas paisagens, frutas e até na sua série de gatos, transparece uma brasilidade sem culpa que extrapola o eixo temático e alcança as cores, as luzes, os traços e telas de uma cultura.
Por isso mesmo, Aldemir é sem dúvida um dos artistas mais conhecidos e mais próximos do seu povo, transitando entre o meio artístico e o leigo e quebrando barreiras que não podem mesmo limitar um artista que é a própria expressão de uma coletividade.
Falece em 05 de Fevereiro de 2006, aos 83 anos, no Hospital São Luís em São Paulo.
MESTRE NOZA (LAMPIÃO NO JUAZEIRO)
Vejo um padre segurando seu cajado e um jovem em frente a ele com as mãos juntas acima da bariga numa posição de reverência. O padre deve ser Padre Cícero e o jovem, Lampião. Na história do cangaço os dois eram velhos conhecidos e exerciam poder na região nordestina: um, pela fé: o outro, pela força das armas. A comunicação é fluida e direta.
Lampião dá inclusive um passo em direção a Padre Cícero como se fosse pedir a benção. A obra é feita (talhada) na madeira com o processo chamado xilogravura. Apesar dos poucos recursos visuais, Mestre Noza consegue transmitir uma história, um ponto de vista. Os dois personagens estão em primeiro plano, dividindo a atenção do espectador. As figuras foram posicionados de forma horizontal, quase na mesma altura – por pouco Lampião não se iguala a altura de Padre Cícero.
Há texturas também nas roupas e no piso (chão). Linhas horizontais e verticais rápidas e curtas fazem a textura. O contraste do claro e escuro é nítido. As linhas (contornos) e as roupas dos personagens (escuro) e o fundo (claro).
A assinatura do autor está entre os personagens, mais próximo de lambião, abaixo do cajado do Padre Cícero. Os espaços vazios são três (esquerda do Padre Cícero, centro - entre os 2 personagens - e a direita de Lampião). Os dois juntos formam um quase quadrado dentro da tela. Foram desenhados de forma vertical em pé, apesar do movimento do olhar ser horizontal (da esquerda para a direita). Não há volume na obra. Os rostos (traços e detalhes), o desenho dos corpos, as texturas entre os personagens são semelhantes.
Acredito que tudo isso queira dizer algo: talvez uma reflexão que naquela época a fé do povo estava sob a proteção das armas do cangaço e da fé. A obra transmite uma harmonia entre Padre Cícero e Lampião, figuras tão diferentes no imaginário popular e ao mesmo tempo tão parecidas. Há mais semelhanças do que contrastes entre os dois.


MESTRE NOZA

Mestre Noza aos 69 anos (Foto publicada no livro “Cordel Xilogravura e Ilustrações”, de Franklin Machado, Editora Codecri, 1982). Santeiro e xilogravurista, Inocêncio da Costa Nick, o Mestre Noza, nasceu em Taquaritinga do Norte, em 1897.
Em 1912, aos 15 anos, participou de uma romaria de 600 quilômetros, a pé, quando se mudou de Quipapá, PE, para conhecer o Padre Cícero. Aos 22 anos, aprendeu a esculpir imagens na oficina do mestre José Domingos.
Sua primeira escultura foi uma Santa Luzia, que trocou por um carneiro. Foi o primeiro artesão a fazer uma estátua a partir da figura do Padre Cícero, que ao apresentar-lhe a obra, teve de ouvir do vigário: "Menino, eu já tenho esta corcunda assim?"
Também conheceu Lampião pessoalmente. Tomou cerveja alemã com o Rei do cangaço e só não entrou para o bando "por falta de coragem".
Além de esculpir santos, fabricava cabos de revólveres, em madeira, para uma empresa do Rio Grande do Sul. No entanto, foi a xilogravura que lhe projetou e deu fama.
A série de 22 gravuras em madeira "Via Sacra", depois de impresso, teve suas matrizes levadas para Paris onde fez sucesso. Seguiram-se a série "Os Doze Apóstolos" e "Lampião", gravados em 1962, e editados pela Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará.
O álbum "Via Sacra" foi reeditado em 1976, na França, por Robert Morel.
Morreu em 1984. Em 1997, para comemorar o centenário de nascimento de Mestre Noza, a Fundação Memorial Padre Cícero organizou, em Juazeiro do Norte, Ceará, o evento "100 Anos de Noza".
Comparação entre Cangaceiro (Aldemir Martins) e Mestre Noza (xilo)
O tema é o mesmo: o cangaço. Porém, os dois artistas contaram histórias sob óticas distintas. O primeiro desenhou Lampião solitário, onipotente, auto-suficiente; o segundo, um lampião sem as armaduras (nu) diante da divindade exercida por Padre Cícero. O enquadramento dos desenhos também é um outro diferencial.
Aldemir desenha Lampião por completo preenchendo o vazio da tela; Mestre Noza equilibra os dois personagens e cria espaços vazios.
Qual o melhor? Não é essa a questão. Os artistas propuseram ideias distintas. Aldemir utilizou o nanquim; Mestre Noza, ferramentas de xilo. Aldemir preocupou-se com detalhes (balas, etc), deformou mãos, corpo, entre tantos outros; Mestre Noza foi direto, simplificou. O interessante é que tanto um quanto o outro conheceram bem a realidade sertaneja, as histórias contadas no serão do Cariri. Talvez por isso, há grandeza na retratação de ambos.

OBRAS IMORTAIS DE DÜRER E REMBRANDT


DUTCH

Por Eduardo Girão
Um senhor vestido com uma túnica e uma espécie de turbante. Ele é a figura central e única do quadro. Está em primeiro plano, posicionado dos joelhos a cabeça. Sua vestimenta ajuda o artista a passar a ideia de volume, forma-se uma quase esfera (corpo e cabeça). A luz invade o rosto (detalhe do turbante ) e parte do ombro esquerdo e da mão esquerda. O resto do corpo permanece na penumbra. Um raio de luz também ajuda a definir o contorno (aura) por trás do homem. Deve ser um duque, pela pose e prestígio, como foi retratado.
Em pé, verticalmente, olhando para o espectador, com o corpo ligeiramente voltado para a direita e a cabeça para frente. Tudo tem um significado, uma razão de ser, todos os detalhes são pensados, estudados. A luz que incide no rosto pode significar momento de lucidez, transparência nas atitudes. A experiência e o caráter do artista demonstra que ele consegue retratar a essência (alma) do retratado (modelo). Consegue transmitir características físicas e de personalidade como vaidade, prestigio, orgulho.
Foco de tensão espacial é no rosto do personagem. A luz leva-nos a observar esse ponto com mais cuidado. A dramaticidade está na contraste do claro e escruto. O quadro me transmite solidão, apesar do poder exercido pela personagem.

REMBRANDT

Em 1642, o pintor Rembrandt entregou uma obra que pintara sob encomenda. Era a chamada "A Ronda Noturna" (que, hoje se sabe, não era ronda nem noturna). O cliente a rejeitou, acusando o artista de "não ter pintado seu retrato", de ter representado "o cenário de uma ópera bufa" e de ter cobrado um preço "muito alto". Nos debates que se seguiram, o pintor foi enfim acusado de "pintar só o que queria". Talvez por isso, Rembrandt tornou-se um dos mais importantes nomes da história da arte ocidental.
Embora de família humilde, Rembrandt van Rijn recebeu boa instrução. Freqüentou a Universidade de Leiden, mas em 1620 interrompeu os estudos para dedicar-se à pintura. No ano seguinte, foi aprender as técnicas de Jacob van Swanenburg no ateliê desse pintor.
Em 1623, transferiu-se para Amsterdã, tornando-se discípulo de Pieter Lastman. Dois anos depois, pintou seu primeiro quadro conhecido. Voltou para Leiden em 1627, permanecendo quatro anos. Ali, instalou seu primeiro ateliê, iniciando intensa atividade artística. Dessa época datam várias águas-fortes.
Em 1631, estabeleceu-se definitivamente em Amsterdã, obtendo rapidamente grande reconhecimento. No ano seguinte, pintou a famosa "Lição de Anatomia do Dr. Tulp", que lhe rendeu muitas encomendas de retratos e pinturas sacras.
Já famoso, Rembrandt casou em 1634 com Saskia Uylenburgh (com quem teria um filho, Titus). O casal foi morar numa casa confortável no bairro judeu de Amsterdã. O lugar tornou-se centro de reuniões sociais, abrigando um belo acervo de móveis e objetos antigos. Rembrandt passou a ter muitos alunos e muitos clientes ricos.
Saskia morreu em 1642. Três anos depois, Hendryckje Stoffels começou a trabalhar como babá de Titus e foi morar com Rembrandt, tornando-se sua companheira. Em 1654, Rembrandt teve com ela uma filha ilegítima, a quem deu o nome Cornelia. O fato causou grande escândalo.
Em 1656, após uma série de problemas nos negócios, Rembrandt teve a falência decretada. Dois anos depois, todos os seus bens foram vendidos judicialmente. Num desses leilões, arrematou-se o "Auto-Retrato de Barba Nascente", hoje no Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Em 1660, Titus e Hendryckje abriram uma empresa para comercializar as obras do pintor, evitando o prosseguimento da falência. Em 1663, Rembrandt perdeu a companheira. Mesmo sozinho, continuou executando várias obras, entre elas paisagens e auto-retratos. Pintou também retratos de Titus; num deles (o quadro "São Mateus e o Anjo", que está no Museu do Louvre), o filho aparece como Mateus.
Titus morreu em 1668. Rembrandt pintou ainda um último "Auto-Retrato", uma composição dramática. Rembrandt van Rijn morreu aos 63 anos, na solidão e na miséria.

AUTORETRATO
Vejo um homem bem vestido, de cabelos longos e chapéu. Ele está ao lado de uma janela aberta que mostra uma paisagem, uma pequena vila. Este homem está olhando para o leitor (especador). A imagem dele preenche quase toda a tela (da cintura para cima). Está ligeiramente inclinada para a direita. O rosto direciona para o centro da janela, mas o olhar permanece direcionado para o espectador.
Há proporções quase perfeitas nesta obras, como se o pintor tivesse estudado cada detalhe. Por mais que seja um ser humano, ele é aqui retratado como figura cósmica, de tão perfeita que é. O contraste de claro e escuro é visível. A luz que entra pela janela percorre o rosto, peito e braço de Dürer, destacando esses pontos.
A época é clara: a realização do indivíduo, figura centralizada em primeiro plano, antropocentrismo. Nesta obra, o volume é trabalhado de forma veemente. As linhas suaves diagonais, horizontais e verticais interligadas no contexto espacial criam a ideia de volume.
A cor também é um outro aspecto importante, mas ainda não é o principal ponto. A A personagem é tridimensional, não é chapada na superfície. O pintor conhece a técnica e a utiliza trabalhando com linha, superfície volume e cor. A luz avança no espaço enquanto que o escuro recua. Há um contraste forte entre branco e preto. Com a luz, vemos o volume, os detalhes, as cores. O contraste claro e escruto gera conflito, mesmo sendo refletido pela luz que entra pela janela, Dürer está imerso na escuridão do seu quarto. Conflito tenso, mas necessário.

DÜRER

Albrecht Dürer viveu entre 1471 e 1528 e foi a figura central da renascença alemã. Estudou com o seu pai, um ourives húngaro que emigrou para a Alemanha, e em 1486 começou a pintar. Tornou-se aprendiz do pintor Michael Wolgumut com quem iniciou os seus trabalhos de gravura em madeira e cobre. Dürer inspirou-se nos trabalhos dos pintores dos dois maiores centros artísticos europeus (Itália e Holanda), mas sendo muito mais inovador. A partir de 1940 Dürer viajou bastante para estudar, passando nomeadamente por Itália e Antuérpia.
As suas jornadas permitiram-lhe fundir as tradições góticas do Norte com a utilização da perspectiva dos italianos.  Começa aqui o seu interesse pela matemática afirmando que "a nova arte deverá basear-se na ciência - em particular na matemática, como a mais exacta, lógica e impressionantemente construtiva das ciências".
A partir de certa altura, a arte de Dürer, mostra a influência de teorias matemáticas, tais como a da proporção. Relativamente à gravura «Adão e Eva», Dürer descreveu as intrincadas construções de régua e compasso que ele fez para construir as figuras. O artista, expressou as suas teorias da proporção no livro "The Four Books on Human Proportions", publicado em 1528. Mas não foi só a teoria da proporção que influenciou o seus trabalhos artísticos, também a sua mestria em perspectiva conquistada através do estudo da geometria foi de grande importância.
Comparação entre Dürer e Rembrandt
Existem mais semelhanças do que contrastes entre as duas obras. Elas trabalham a luminosidade, apesar de Dürer ter colocado profundidade na paisagem, Rembrandt também o fez com a luz por trás do personagem. Ficou claro que a ocupação do espaço é diferente nas duas obras como também na centralização das mesmas. Durer trabalha volume; Rembrandt, luz.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

DESENHOS EDUARDO GIRÃO

COMPARAÇÃO ENTRE OBRAS DOS ARTISTAS RAIMUNDO CELA E SAUL STEINBERG

Por Eduardo Girão
Para leitura das obras Retirantes, de Raimundo Cela, e Untitled, 1961, de Saul Steinberg, foi utilizada a metodologia Image Watching que analisa uma obra de arte em cinco passos: olhar (somente descreve o que se vê); construir (analisa as cores, linhas, profundidade, técnica, etc); sentir (interpretação da obra, o que se sente ao vê-la); conhecer (informações contextualizadas sobre a tela), etc.

Retirantes
Um homem e uma mulher olhando para o horizonte, infinito. Ele segura com uma mão um galho de uma árvore e com a outra um chapéu. A mulher está sentada (à direita, logo abaixo) e usa um lenço na cabeça. Ambos estão de costas para o espectador.
A Obra é em preto e branco cujas linhas verticais predominam. Há também linhas horizontais e inclinadas, apesar da imagem ser estática, as linhas contribuem para que o espectador faça um movimento da esquerda para direita e de cima para baixo. Elas guiam o olhar do tronco até a mulher sentada, passando pelo marido. Algumas linhas são mais fortes; outras, mais suaves. A linha horizontal (bem abaixo do centro) dá ideia de repouso como também as verticais chamadas linhas estáticas, embora bem menos que as horizontais. As outras linhas são consideradas mais dinâmicas, criando movimento.
Os pontos geométrico e perceptivo ficam próximos a cintura do retirante. Sendo que o primeiro é aquele que precisa de uma régua para ser medido, pois é mais preciso a olho nu, pois fica mais difícil percebê-lo sem a utilização dessa técnica. É o ponto central entre as bordas de um quadro. O ponto perceptível é aquele em que o nosso olhar o identifica, geralmente fica acima do ponto geométrico.
Raimundo Cela conseguiu manter em harmonia a parte superior com a inferior. Na área superior, um galho de árvore levemente sombreado ajuda a equilibrar o peso com a roupa da retirante cujos traços são mais escuros. Sem esse tronco, o peso da tela seria muito maior na parte inferior por causa dos fortes traços da retirante. Apesar disso, há uma área de maior leveza na parte superior da tela.
O quadro passa a ideia de tranquilidade, contemplação, observação e espera. São essas as sensações e sentimentos que se misturam na obra.
Biografia Raimundo Cela (1890 - 1954)
Filho de uma professora brasileira e de um mecânico espanhol. Quando tinha quatro anos de idade a família se mudou para a cidade de Camocim, no litoral oeste do Ceará, onde seu pai assumiria um cargo nas oficinas da estrada de ferro. Foi em Camocim que Raimundo Cela e seus irmãos fizeram com a própria mãe os estudos iniciais de alfabetização. Em 1906 vem para Fortaleza para estudar no Liceu Cearense, à época uma escola de reconhecida qualidade, onde se diplomou bacharel em Ciências e Letras. Em 1910 chega ao Rio de Janeiro e, atendendo a sua inata inclinação para as artes, matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes como aluno livre. “A pintura de Raimundo Cela consagra motivos regionais cearenses – pescadores, jangadeiros, beiras de praias com coqueiros, tipos nordestinos -, tratados com grande realismo, com auxílio de um desenho correto e de um colorido subordinado à realidade. Certo rústico expressionismo se evola dessas obras sólidas, que estilisticamente se situam à margem do modernismo, mas que ainda assim conseguem convencer pelo que possuem de íntima energia, de sinceridade e de emoção.

Untitled, 1961
Já na obra de Steinberg, um homem sozinho vê vários pontos de interrogação de tamanhos e formatos distintos. Nuvens e cactos em segundo plano. Ele está de perfil e em pé.
Um homem atônito diante de tantas possibilidades e dúvidas. Ele se torna pequeno diante das indagações. O peso dado às questões é diferente para cada uma. Algumas mais leves; outras, nem tanto. O sentimento é o de impotência diante de tantas dúvidas. O que fazer?
O desenho é em preto e branco e possui linhas horizontais (nuvens), curvas e arredondadas de espessuras diferentes. Nesses casos, as linhas arredondadas e curvas contribuem para o movimento do desenho. Mesmo as linhas horizontais (nuvens) são colocadas dando movimento a obra. Juntas, próximas e rápidas, essas linhas criam movimento maior do que se fossem traçadas separadamente e distantes uma da outra. O desenho preenche quase toda a tela, deixando alguns espaços vazios. O tamanho, a forma, a largura dos pontos de interrogações ajudam a criar movimento, apesar da maioria não flutuar no espaço por causa do peso como foram traçadas. Há ainda muita luz saindo da direita para a esquerda e sombras nos desenhos.
É difícil calcular o ponto perceptivo nessa obra, talvez pela grande quantidade de elementos soltos. Fica acima da linha inclinada (horizontal) e próximo ao ponto de interrogação central. O peso e leveza se equilibram entre as áreas superior e inferior do desenho, sendo que na área inferior há uma maior concentração de elementos. Os olhos do espectador caminha do lado esquerdo para o direito seguindo as orientações das linhas horizontais , curvas e verticais.
Comparação entre as duas produções
São obras diferentes em suas essências, mas que possuem elementos similares: nos dois trabalhos, as linhas são as grandes vedetes, escolhidas para traduzirem as inquietações dos autores. Traços fortes, leves, precisos - outros menos precisos. Essa composição cria o caráter desafiador e inquietante para o espectador que tenta desvendar os mistérios que estão por trás dos traços. Nenhum dos dois artistas utilizam a cor em suas obras. Eles preferiram o papel para retratar a composição. É interessante observar que, apesar dos desenhos serem de artistas, temas, épocas, estilos e técnicas distintas, há muito em comum entre as obras. Por exemplo, elas transmitem sentimentos profundos e fazem refletir. Não importa a forma mais ou menos naturalista, são geniais pela essência, composição, movimento, ideia e crítica.

Biografia de Saul Steinberg (1914 - 1999)

Saul Steinberg é cartunista, artista gráfico e um grande cronista do dia a dia. Nasceu na Romênia, em 1914 e estudou arquitetura na Itália. Na Segunda Guerra Mundial, foi morar nos Estados Unidos e se naturalizou como norte-americano em 1943.
Steinberg revolucionou a linguagem do desenho e, ao longo de 60 anos como artista e colaborador da revista The New Yorker, foi um crítico muito bem humorado da rotina das grandes cidades, do poder, da guerra, da futilidade. Galinhas gigantes, engarrafamentos, mulheres consumistas, imigrantes, tudo ganhava um novo sentido com os traços de Steinberg.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

PROJETO COM TECNOLOGIA É UMA BOA


Por Eduardo Girão

O projeto é um esboço de algo que se deseja atingir. Está comprometido com ações e aberto e flexível ao novo. A todo momento, pode ser reformulado de acordo com as necessidades e interesses dos sujeitos envolvidos. Segundo texto de Maria Elizabeth Almeida (Revista TV Escola), os alunos tem liberdade de criar, representar e construir conhecimento; os professores são parceiros dos alunos, incentivando-os a desenvolver estudos, pesquisar fontes, buscar, selecionar e articular informações com conhecimentos que já possui para compreender melhor essas questões. A tecnologia permite a expansão da sala de aula para além do tempo limitado da presença física, tornando possível que outros internautas participem das reflexões sugerindo novos caminhos, etc. Essa prática força os envolvidos no projeto a se dedicarem mais a aprofundar os estudos e a permanecer a semana toda trocando informações e elaborando suas produções, realimentando o espaço virtual com novas interações. Não é mais segredo que o computador é muito útil para a pesquisa, comunicação e principalmente troca de conhecimento.
O currículo tem que estar mais antenado com as novas tecnologias e não pode ficar à margem das mudanças da sociedade. Tem que estar mais aberto às experiências de vida dos alunos, da comunidade escolar. Deve ser integrado às disciplinas com o objetivo de envolver todos em atividades interessantes e práticas (interdisciplinar). Através de um currículo por projetos com o uso de tecnologias, os alunos estarão mais preparados para a vida, em condições de interagir melhor no mundo em que vivem. Descobrirão que é prazeroso aprender.
O currículo por projetos também deve refletir o que somos hoje, seres plurais, multifacetados e abertos a experiências interativas onde não há um único protagonista, mas sim uma legião formada principalmente por alunos e professores. Nesse caso, o professor é mais uma espécie de orientador também em busca do conhecimento constante. Ele ajudará a formar cidadãos mais cientes de seus deveres, uma sociedade mais democrática, mais apta a enfrentar os desafios futuros, menos atrelada ao tempo e espaço (fragmentada).
Por fim, não interessa mais simplesmente saber as respostas, mas sim compreender o significado das questões. Com a tecnologia, podemos inclusive compartilhar os resultados, as descobertas, as dificuldades com o mundo – do local para o global e vice-versa. Para isso, os professores devem reconhecer que precisam quebrar os paradigmas e reformular a maneira de ver e encarar a sala de aula. Estão preparados?

MAPAS CONCEITUAIS, UMA ATIVIDADE QUE FAZ PENSAR


Por Eduardo Girão

Os mapas conceituais ajudam os alunos a entender melhor o conteúdo proposto pelo professor, a trabalhar em equipe, desenvolver habilidades, tomar decisões e transformar informações em conhecimento. É uma ferramenta para organizar e representar conhecimento. Eles são representações gráficas que indicam relações entre conceitos e objetos ligados por palavras que podem estar interligadas por links da internet, ampliando assim as possibilidades de aprendizagem. Com isso, os alunos passam a conhecer mais sobre determinado assunto. Tudo isso torna a prática educativa mais dinâmica.
O bom é que não existe uma única forma de representar um conhecimento. É interessante notar que com os mapas conceituais torna-se a aprendizagem mais significativa, ou seja, o novo conhecimento é adquirido por meio da interação com algum conhecimento prévio, existente na estrutura cognitiva do aprendiz. E como fazer? Ter em mente uma boa pergunta inicial, escolher um conjunto de palavras chaves, escolher um par de conceitos para estabelecer as ligações entre eles, decidir qual o melhor e escrever uma frase de ligação para esse par escolhido, entre outros passos.
O momento atual requer uma nova forma de pensar e agir para lidar com a rapidez e a abrangência de informações e com o dinamismo do conhecimento. A tecnologia pode ajudar a melhorar a autonomia dos alunos ao desenvolver competências para lidar com as características da sociedade de hoje, que enfatiza a autonomia, por meio de produção de ideias. Essa forma de aprender relaciona aspectos presentes da vida pessoal, social e cultural do aluno com o conhecimento acadêmico. A tecnologia deve ser incorporada ao cotidiano escolar para que possa construir jovens mais cidadãos, participativos e responsáveis. As tecnologias também ajudam integrar a escola a várias áreas do conhecimento, caminhando em direção a interdisciplinaridade. É preciso incentivar os professores e alunos a reconstruir sua prática pedagógica, levando em consideração a tecnologia disponível na escola.

PAPEL DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA


Por Eduardo Girão

O papel das tecnologias integradas no currículo é o de educar, de transformar alunos em cidadãos mais reflexivos diante da realidade que os cerca. É fato que não dá mais para deixar as tecnologias fora do planejamento das disciplinas nem da grade curricular. Com o mundo cada vez mais tecnológico, a escola não pode ficar á margem desse contexto, pois hoje os jovens usam celulares, fazem parte de redes sociais, se comunicam com comunidades virtuais, produzem seus próprios conteúdos online etc.
O professor deve se espelhar mais nesses novos saberes para deixar de lado a comunicação unidirecional, aderir a um esquema educacional mais democrático, onde o currículo aparece em construção permanente, resultado da interação com os alunos. Hoje em dia, a estratégia do educador é mais a de orientar os alunos do que a de ditar regras pré-determinadas, dando mais ênfase ao que os protagonistas estão por dizer. O professor/orientador tem consciência que competir com essas “sereias” tecnológicas é deseducativo. Por que não agregar valor as tecnologias dando sentido a elas? Entretanto, para que isso ocorra com sucesso, é preciso ter um plano, integrando-o nas teorias de ensino e do currículo. Só assim pode-se desmistificar seu uso diante dos outros educadores da escola, neutralizando a desconfiança que ainda paira sobre ela.
Então, o papel das tecnologias integradas no currículo depende do modo como professores as inserem no processo didático pedagógico. A tecnologia faz sentido existir nos projetos quando caminha junto com o currículo de forma interdisciplinar, flexível, descentralizada, não linear, multireferencial. Acredita-se que isso ajude os alunos a desenvolver conhecimentos para sua autonomia pessoal, formando seres mais críticos, criativos e capazes de se relacionar com o mundo contemporâneo.

VÍDEOS PRODUZIDOS PELA TRIBO KUIKURO É UM EXEMPLO A SER SEGUIDO PELAS ESCOLAS


Por Eduardo Girão

O vídeo produzido pela tribo Kuikuro mostra a preocupação da tribo em manter a tradição e as origens mesmo diante de tantas influências externas. As novas gerações são cada vez mais influenciadas pela mídia (cultura de massa e indústria do consumo). Hoje já se pode encontrar nas aldeias índios de estilos e comportamentos típicos do “homem branco”. Por incrível que pareça, existe índio emo, roqueiro etc. Então, o que fazer para não perder os ensinamentos repassados de geração a geração sem deixar de lado os avanços do mundo contemporâneo.
A tribo Kuikuro, do Alto Xingu, aproveitou o interesse dos mais jovens pela tecnologia e passou a utilizá-la em benefício próprio de forma inteligente. Para manter viva as raízes, os índios realizam documentários e filmes contando as histórias e lendas do povo. Os vídeos são produzidos, dirigidos e exibidos pelos próprios habitantes da aldeia – uma maneira de salvaguardar a cultura e divulgá-la para as futuras gerações.
O interessante é que os entrevistados são os próprios moradores que tem a oportunidade de se verem nas telas não só nas da tribo Kuikuro como também nas de festivais de cinema espalhados pelo mundo. Os documentários passaram a ser um importante instrumento de comunicação realizados de dentro da aldeia e não por forasteiros como era de costume.
Os vídeos produzidos pela tribo podem ser caracterizados como um projeto que articula currículo, tecnologia e cultura, porque os realizadores trabalham interligando e ressaltando os três itens: conhecimento curricular aprendido na sala de aula, conhecimento popular adquirido no cotidiano da aldeia e conhecimento tecnológico.
Com a produção dos vídeos, os jovens da aldeia se identificaram mais com as danças e cantos indígenas, favorecendo o diálogo entre diferentes gerações. Além disso, a câmera ainda ajuda a denunciar os problemas como invasões de terra etc. Agora, a tribo Kuikuro fazem parte do contexto global sem perder as raízes culturais.
Os índios constroem conhecimento em conjunto, onde todos tem oportunidade de se expressar e colaborar. Dessa maneira há um ganho nas questões que envolvem responsabilidade social, cidadania, autonomia, desenvolvimento das habilidades individuais e amadurecimento.
A escola de hoje deve ter como exemplo a experiência vivida na tribo Kuikuro ouvindo mais os alunos, melhorando a forma como eles são avaliados, aperfeiçoando o currículo escolar de acordo com os novos anseios da vida moderna, não colocando em terceiro plano o uso das tecnologias em sala de aula, valorizando os professores (mais tempo para estudar, um salário mais condizente com a responsabilidade que o cargo exige) são alguns passos que não podem ser deixados de lado.
O processo de aprendizado do aluno deveria ser marcado por inclusão e diálogo. A escola é mais do que uma sala de aula, é um espaço de convívio onde o conhecimento deve se alinhar à busca da cidadania, da diversidade de expressão e das múltiplas possibilidades culturais. Seria um bom começo para a flexibilização curricular estimular os estudantes a serem independentes vida afora, a construir leituras próprias do mundo; só assim, se tornarão adultos cientes de seu valor individual para com o coletivo.
Uma relação amistosa entre alunos e professores, sem sentença de reprovação é um passo importante rumo ao aprendizado. Afinal, todos são capazes de aprender.

INTERDISCIPLINARIDADE NA ESCOLA


Por Eduardo Girão

O bom seria que a maioria dos projetos fosse desenvolvida de forma interdisciplinar. A interdisciplinaridade ajuda o aluno a expandir o aprendizado, levando-o a organizar melhor as ideias, o tempo, o conhecimento etc. O ensino organizado, fragmentado não atinge as exigências deste novo contexto mundial onde o estudante deve saber interpretar acontecimentos interligando diferentes assuntos.
A fase do decoreba acabou, agora vivemos a fase das ações criativas e colaborativas. O estudante deve aprender a relacionar aspectos curriculares com a vida presente, social, escolar. É claro que ainda há muitos projetos sendo desenvolvidos nas escolas sobre uma única área do conhecimento. O bom projeto é aquele construído “sem camisa-de-força”, flexível e aberto a negociações.
Com democracia e liberdade, outras disciplinas podem ser agregadas naturalmente ao projeto original. Essa estratégia faz toda a diferença na hora de colocar em prática uma atividade escolar. O professor deve conhecer as reais necessidades e interesses dos alunos, sem impor ideias unilaterais, abrindo espaço à discussão em sala de aula.
A tecnologia faz parte do cotidiano desses jovens e não pode ser extirpada do convívio deles. Deve ser entendida pelos educadores para o crescimento de ambas as partes. Para isso, precisa-se estimular os professores a compreender a importância das novas tecnologias no aprendizado e para a interdisciplinaridade.

APRENDENDO COM UM MESTRE DA EDUCAÇÃO


Por Eduardo Girão

O filósofo norte-americano John Dewey defendia a democracia e a liberdade de pensamento como instrumento para a maturação emocional e intelectual dos alunos. As ideias do autor falam da imposição dos objetos de estudo por parte de alguns educadores. Para ele, a escola ganha quando os estudantes são ouvidos, as opiniões esclarecidas, dialogadas e colocadas em pratica. O diálogo entre professor e aluno deve ter liberdade e clareza de pensamentos, não deve existir espaço para a vaidade de nenhuma da partes. No final das contas, o que importa é o crescimento dos jovens fisicamente, emocionalmente e intelectualmente.
Um dos aspectos de John Dewey é que ele desenvolveu uma relação primordial entre teoria e prática para quem deseja trabalhar com projetos na escola. O teórico acreditava que os alunos aprendem melhor realizando tarefas práticas associadas aos conteúdos curriculares. O interesse dos jovens nas disciplinas cresce quando o educador envolve atividades extraclasse. Os estudantes devem ser estimulados a participar do aprendizado; afinal, um dos papeis da escola não seria ensinar o jovem a viver no mundo? John Dewey demostra de forma simples que o papel do professor é apresentar os conteúdos escolares de forma de questões ou problemas e jamais dar de antemão respostas ou soluções prontas. Segundo ele, um projeto pode começar com uma dúvida, questão ou opinião colocada por um aluno ou professor e ganhar interesse de toda uma turma, uma comunidade escolar.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

LIXO QUE SE TRANSFORMA EM ARTE

ANTÔNIO BANDEIRA: AMAZONAS GUERREANDO


Antônio Bandeira
Amazonas Guerreando
1958
Óleo sobre Tela
89,0 x 146,0 cm


2.
Elemento Visual

Pintura marcada por fortes espatuladas fazendo uma correspondência entre realidade e abstração. São gestos, muitas vezes, firmes, rápidos e curtos - únicos que se multiplicam de forma singular por toda a obra em diversas direções, espessuras, formatos, tamanhos, cores. Neste caso, seria fora do contexto reproduzi-los uniformemente.
Antônio Bandeira preenche a tela como um todo, não deixando espaços vazios. Apenas sobressaindo alguns mais do que outros. Vejo algumas espatuladas vermelhas demarcando (rodeando) o espaço pictórico, as mesmas cores também estão presentes em outros lugares. É como se elas quisessem chamar a atenção para as imagens centrais do quadro. Também há espatuladas azuis, verdes, amarelas, pretas, brancas e cinzas, sendo que as essas últimas formam um campo aberto (plano de fundo) para que as outras possam se sobressair.
Algumas vezes, as cores ficam sobrepostas umas sobre as outras principalmente o azul e o verde que, por sinal, se destacam. O amarelo pontua alguns momentos e a cor preta forma figuras que beiram a realidade: círculos (será discutida na interpretação).
As linhas (algumas suaves, outras nem tanto) estão tanto na horizontal quanto na vertical, cada uma simboliza uma força impar de expressão. Horizontais, imobilidade; verticais, instabilidade. Já as linhas diagonais podem ser consideradas dinâmicas, dando ideia de movimento e ação. Juntas, as espatuladas e linhas ajudam a equilibrar, enriquecer, dinamizar a composição.
Antônio Bandeira soube a hora certa de parar, em Amazonas Guerreando não há linhas supérfluas, o que prejudicaria o trabalho. Mesmo nesse quadro não figurativo, é possível entender os elementos visuais e chegar a uma interpretação. Esse contraste entre dinamismo e estabilidade reforça a tensão, cria conflitos e ritmos, enriquecendo o conteúdo expressivo da obra. A clareza do pintor é reconhecida pelas linhas, cores, contrastes, superfície e ritmos, tudo isso não passa despercebido.
Em relação à superfície, os círculos, por exemplo, não são mais do que linhas presas no fluir do tempo. Com isso, são elementos considerados de carácter mais estático do que dinâmico. Antônio Bandeira também produz outras formas não geométricas, irregulares, sinuosas, pontudas com as espatuladas e ajuda das cores (maioria primária). Na verdade, o pintor lida com uma infinidade de combinações intermediárias de superfícies nem totalmente fechadas nem abertas, alterando tudo ao redor e formando novas feições.
Em Amazonas Guerreando, O artista consegue imprimir certo grau de volume, consequentemente profundidade. Ao interligar as linhas horizontais, verticais e diagonais e superfície, ele produz imagens as quais refletem novas dimensões - algumas bidimensionais. Há uma transformação constante dos elementos visuais (importante para reverter os aspectos estáticos), cada um pode ser transformado em outro, visto como componente de um novo elemento.

Há todo um caminho a ser percorrido: linha, superfície, volume. É bom deixar claro que nenhum elemento perde sua identidade no contato com outro. As escolhas conscientes ou não do artista possibilitam inclusive criar pontos de fuga, afunilando nosso olhar para o centro da tela. Para isso, basta seguir as espatuladas coloridas. Vindas de todas as direções, elas parecem convergir e unir-se no horizonte.
Na obra do artista, por mais que haja um contraste entre claro e escuro (espatuladas brancas em contraste com as coloridas), o elemento formal seria a superfície e não a luz. Não há nessa obra, um avanço/recuo entre claro e escuro. Porém, é necessário ser dito que as linhas, superfícies, volumes, tonalidades de cor foram elaboradas consistentemente em valores claros e escuros. Com elas, o movimento pulsante da luz pode ter sido orientado para determinadas direções favorecendo o plano pictórico.
Há algumas semelhanças e contrastes no quadro Amazonas Guerreando. Exemplo: as espatuladas, independentemente da cor, introduz uma sequencia rítmica, mais lírica. Quando comparadas às linhas e aos círculos formam contrastes, o caráter dramático da obra. Esses contrastes significam as tensões espaciais. Essas diferenças podem ser vistas na direção das linhas, na escolha das cores (vermelho versus verde), etc. É através desses contrates que se podem visualizar as figuras, concentrando nossa vista em certos lugares e criando focos de tensão espacial em outros. Por mais que se tenha um emaranhado de elementos visuais, Antônio Bandeira nos guia por percursos repletos de dramaticidade, os quais sem as repetições não teriam a mesma força.

Direções Espaciais

O espaço proposto na tela por Antônio Bandeira tem muitas imagens criadas pelo autor inspiradas em seu mundo - único. São expressões carregadas de emoções, mesmo nas formas geométricas como os círculos.
O leitor começa a enxergar a obra da esquerda para a direita, de cima para baixo (movimentos sinuosos) até chegar ao canto inferior direito. A porta de entrada é uma espécie de introdução seguida de desenvolvimento, clímax e conclusão - nem sempre essa ordem é seguida.
A pintura se espalha horizontalmente pelo espaço pictórico. Em Amazonas Guerreando, até para os menos observadores é possível ver as mulheres em combate com seus cavalos e lanças retratadas, é claro, de forma abstrata. A batalha se espalha pela tela como uma explosão de vida e morte. Todas as formas do espaço enchem-se de conteúdos expressivos, existenciais, que se elaboram espontaneamente diante dos nossos olhos.
As direções espaciais dão um equilíbrio ao quadro contrabalançando a parte inferior com a superior. O peso e densidade da parte inferior são suavizados com imagens construídas acima em quantidades significativas. Se dividíssemos a tela pela metade com um giz, as imagens criadas abaixo do centro visual perceptivo se repetiriam também acima do mesmo como se fossem um espelho d´água - claro que obedecendo as singularidades das linhas que nunca se repetem e sabendo que as imagens abaixo tem um peso maior, pois são mais densas, e as acima, mais leves, flutuantes. Isso também não quer dizer que os lados sejam iguais, por mais simétricos que sejam.
Uma observação é importante ser dita: ao colocar o quadro de cabeça para baixo, percebemos que o equilíbrio interno da obra seria destruído. Essa experiência demonstrou que, mesmo que se trate de formas abstratas, não foi possível virar a composição de ponta cabeça, porque perdeu a essência, o sentido, desequilibrou o espaço pictórico.

Técnica

Antônio Bandeira utilizou pintura a óleo que é uma técnica artística que trabalha com tintas a óleo, aplicadas nesse caso com pincéis e espátulas sobre uma tela de tecido (89,0 x 146,0 cm).
Não se sabe ao certo o motivo pelo qual optou em trabalhar com tinta a óleo. O que se sabe é que a grande vantagem da pintura a óleo é a flexibilidade, pois a secagem lenta da tinta permite ao pintor alterar e corrigir o seu trabalho constantemente. E Antônio Bandeira era um expecte em deixar a tinta escorrendo sobre a tela em várias posições para que novas imagens fossem criadas ajudando assim a formar sua composição abstrata.
A pintura a óleo é conhecida também pela versatilidade que oferece ao artista conferindo resultados nas técnicas tradicionais (como a mistura cromática e o brilho). Ainda há uma abrangência de cerca de 100 cores de um elevado nível de pigmentação intenso com ótimas propriedades de pintura.

3.
BIOGRAFIA


Antônio Bandeira
Poeta, Desenhista, gravador e pintor
Fortaleza, 1922 - Paris, 1967


Antônio Bandeira é um dos poucos artistas cearenses que tem suas obras expostas nos principais museus do mundo. O reconhecimento da crítica internacional por seu talento fez com que fosse respeitado e admirado entre os conterrâneos e apreciadores das artes plásticas. Levou para Paris, o melhor da “terra do sol”: as cores e as lembranças da infância entre árvores, flores, nuvens, redes de dormir, ruas. Enfim, a natureza áspera da Região Nordeste tão encravada em sua existência.
Pintor e desenhista cearense (26/5/1922 - 6/10/1967). Pioneiro do abstracionismo informal na pintura brasileira. Nasce em Fortaleza e começa na pintura como autodidata, no início da década de 40. É um dos fundadores do Centro Cultural Cearense de Belas Artes, juntamente com Clidenor Capibaribe, Barrica (1913) e Mário Barata (1915-1983), mais tarde Sociedade Cearense de Artes Plásticas (com Inimá de Paula, Aldemir Martins, João Maria Siqueira e Francisco Barbosa Leite), no qual participa de coletivas e faz a primeira exposição individual, em 1942.
Muda-se para o Rio de Janeiro em 1945. No mesmo ano mostra seu trabalho na então capital federal e ganha uma bolsa do governo francês para estudar em Paris na Escola Superior de Belas Artes e na Académie de La Grande Chaumière.
Lá, forma com Camille Bryen (poeta e pintor francês) e Wols (fotógrafo e pintor alemão) o grupo Banbryols. Independente, pouco afeito à disciplina, com ideias próprias que tencionava desenvolver, Bandeira romperia com o ensino tradicional, juntando-se a Wols e Bryen e dando origem ao grupo Banbryols - iniciais dos nomes dos três pintores. O grupo duraria de 1949 a 1951, quando Wols morre.
Depois de uma fase de paisagens expressionistas, pinta formas abstratas, seguindo o movimento que começa a crescer nas artes. Em 1950 volta ao Brasil, onde fica até 1954. Nesse período expõe na Associação Brasileira de Imprensa (1951) e no Museu de Arte Moderna de São Paulo (1951 e 1953). Participa ainda do Salão Nacional de Arte Moderna, em 1952 e 1953, e das bienais de São Paulo de 1953, 1955 e 1959. Na década de 50 e início da de 60 realiza outras mostras individuais e coletivas no Brasil e em muitas cidades europeias e estadunidenses como Veneza, Londres, Viena, Nova Iorque e outros centros culturais.
É considerado um dos mais valorizados pintores brasileiros, e tem obras nas maiores coleções particulares e museus do Brasil e do mundo.
Volta a Paris em 1965, onde permanece até sua morte, vítima de uma cirurgia de extração de amígdalas. O crítico Frederico Morais escreveu a seu respeito: "(...) Acho definitiva, para a compreensão de sua obra, esta afirmação: ´Nunca pinto quadros. Tento fazer pintura´.”

Contextualizar Técnica no Ambiente de Aprendizado e Possibilidades da Região onde o Artista estava Inserido

Infância - Quando criança, Antônio Bandeira brincava em torno de árvores frondosas. Na fundição de seu pai aprendeu a misturar os tons das cores vendo ferro e bronze serem derretidos. Depois, a família contratou uma professora de pintura para que o jovem pudesse aperfeiçoar seu talento. Até então, Bandeira aprendera a retratar paisagens em aquarela - técnica de pintura, muito utilizada por iniciantes, na qual os pigmentos se encontram dissolvidos em água.
Quando viajou à Paris para estudar na Escola de Belas Artes, Bandeira amadureceu como artista e pessoa. Vivenciou os Anos Dourados em um dos centros urbanos e culturais mais modernos da época. Fez amizade com os artistas Wolf e Camille Bryen - juntos fundaram o grupo Banbryols. O encontro o impulsionaria para o abstracionismo lírico e informal, em que se inspirava no instinto, no inconsciente e na intuição para construir uma arte imaginária ligada a uma "necessidade interior"; tendo sido influenciado pelo expressionismo, aparece como reação às grandes revoluções do século. O grupo realizou apenas uma exposição, em 1949, na Galerie des Deux-Iles, em Paris, o suficiente para influenciar Bandeira nas novas experimentações estéticas impulsionadas pela tradição modernista pregressa.
Bandeira foi influenciado também por filósofos, escritores, enfim, pela intelectualidade presente da época: Manuel Bandeira, Sartre, Pietro Bardi, Freud, Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. Em Paris, teve contato com várias correntes estilísticas (Fauvismo, Cubismo, Expressionismo, Surrealismo) e obras de renomados artistas (Van Gogh, Gauguin, Picasso, Paul Klee). Essa miscelânea de conhecimento possibilitou Bandeira desenvolver um estilo, considerado por muitos críticos, único. A dúvida que fica é: caso tivesse permanecido em Fortaleza teria tido tanto sucesso? Talvez o talento do jovem Bandeira não tivesse chegado tão longe, por exemplo, nos museus mundo afora. As possibilidades artísticas no Ceará não eram tantas, apesar da criação da Sociedade Cearense de Artes Plásticas – SCAP, o mercado de artes nacional ainda se concentrava no eixo Sul e Sudeste brasileiro.

O que estava Acontecendo no Lugar onde a Obra Amazonas Guerreando foi Criada

HISTÓRIA POLÍTICA

No Ceará, durante a década de 1950, surgiram ou se fortaleceram vários dos maiores grupos econômicos do Estado: Otoch, J. Macêdo, M. Dias Branco e Edson Queiroz. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no período. Também tem início uma onda migratória para vários estados e regiões do sul-sudeste. Entre 1950 e 1960, o estado decaiu a taxa de representação da população brasileira, de 5,1% para 4,5%. Em 1952, o Governo Federal inaugurou oficialmente o Porto do Mucuripe. Em seu entorno foram instalados usinas termoelétricas para abastecer a cidade de Fortaleza. Em 1955, a cearense Emília Barreto Correia Lima foi eleita Miss Brasil.
Em 1950, o Brasil recebe a Copa do Mundo de Futebol. Apesar de perder a final para o Uruguai, por 2 a 1, coloca o país definitivamente em destaque no cenário internacional, deixando como legado o Estádio do Maracanã, o maior da nação.
Ainda em 1950, o maior comunicador brasileiro do século XX, Assis Chateaubriand, inaugurou a TV Tupi São Paulo. Nesse ano, Getúlio Vargas foi mais uma vez eleito presidente, desta vez pelo voto direto. Em seu segundo governo foi criada a Petrobrás. Porém, Getúlio não conseguiu conduzir tão bem o seu governo, pressionado por uma série de eventos, em 1954, comete suicídio dentro do Palácio do Catete. Assume o vice-presidente, João Fernandes Campos Café Filho.
Em 1955, Juscelino Kubitschek foi eleito presidente, ainda que tenha enfrentado tentativas de golpe. Seu governo caracterizou-se pelo chamado desenvolvimentismo, doutrina que se detinha nos avanços técnico-industriais como suposta evidência de um avanço geral do país. O lema do desenvolvimentismo sob Juscelino foi 50 anos em 5. Em 1960, Kubitschek inaugurou Brasília, a nova capital do Brasil.
Já em 1961, Jânio Quadros assumiu a presidência, mas renunciou em agosto do mesmo ano. Jânio pregava a moralização do governo e fez um governo contraditório: ao lado de medidas polêmicas (como a proibição de lança perfume e da briga de galo), o presidente condecorou o revolucionário argentino Ernesto Che Guevara. Com a condecoração, Jânio tentava uma aproximação com o bloco socialista para fins estritamente econômicos, mas assim não foi a interpretação da direita no Brasil, que passou a alardear o pânico com a "iminência" do comunismo.
O vice-presidente João Goulart, popularmente conhecido como "Jango", assumiu a presidência, após uma crise política: os militares não queriam aceitá-lo na presidência, alegando o "perigo comunista".
Em 1963, entretanto, João Goulart recuperou a chefia de governo com o plebiscito que aprovou a volta do presidencialismo. João Goulart governou entre 1961 e 1964, quando se refugiou no Uruguai deposto pelo Golpe Militar de 1964.
No seu governo houve constantes problemas criados pela oposição militar, em parte devido a seu nacionalismo e posições políticas radicais como a do Slogan "Na lei ou na marra" e "terra ou morte", em relação à reforma agrária.

ANOS DOURADOS

A década 50 ou simplesmente Anos dourados é considerada uma época de transição entre o período de guerras da primeira metade do século XX e o período das revoluções comportamentais e tecnológicas da segunda metade, como por exemplo, a chegada da televisão no Brasil pelas mãos do empresário Assis Chateaubriand. Foi considerada também a "idade de ouro" do cinema e a época de importantes descobertas científicas como DNA.
Foi na década de 50 que o Brasil começou a se modernizar. A imprensa falada ganha corpo com o radio levando informação aos mais remotos rincões, o mundo passa por uma efervescência cultural atingindo o Brasil com uma intensa movimentação tanto na música quanto no cinema, teatro, sendo a Bossa Nova um grande exemplo desses movimentos. O país engatinha a caminho da modernização, passando de país agrário, com a maior parte da população morando no campo a caminhar para a industrialização com a população migrando do campo para as cidades proporcionando um grande crescimento destas e se urbanizando. Caracterizaram-se por uma profunda modificação na sociedade brasileira.
Nesta década o Brasil inicia os primeiros passos para entrar no caminho do desenvolvimento econômico. Foram anos de intensa movimentação política culminando com a chegada de Juscelino à presidência, prometendo modernizar o Brasil. Seu grande feito que o projetou para história foi a construção de Brasília a nova capital. A novidade governamental foi seus planos de metas, prometendo governar 50 anos em 5. O populismo impera com governantes portadores de grande apelo popular. Os grupos sociais começam a se organizar em associações, sindicatos e partidos dando o chute inicial do que seriam as grandes mudanças ocorridas nos anos 60.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se firmaram como a maior potência do mundo capitalista. Entretanto, a situação de crise econômica enfrentada pelos países europeus, poderia se tornar uma ameaça à prosperidade norte-americana, já que um grande mercado consumidor fora arrasado pela guerra. No cenário da Guerra Fria, o consumismo norte-americano era considerado a melhor forma de afastar o “perigo comunista”.
A partir da década de 50, a emergente sociedade de consumo passou a abarcar um novo mercado com o surgimento a cultura jovem. A cultura da juventude, apesar de tender à insatisfação e revolta com os valores mais arcaicos da sociedade ainda era um tanto in-gênua no seu surgimento. Era ligada ao fenômeno do rock’n’roll que, apesar de chocante para os padrões morais da época, não era politicamente engajado, falando sobre carros e relacionamentos amorosos. A cultura jovem brasileira dos anos 50 sofreu uma influencia direta dos Estados Unidos, pois nessa época o Brasil havia entrado na onda da industrialização permitindo, com a política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, que a cultura estrangeira se incorporasse à cultura nacional, propiciando o surgimento de novos movimentos como a bossa nova.
Foi somente a partir dos anos 60 que a juventude se mostrou mais engajada e politizada. A guerra do Vietnã e os movimentos negros motivaram os jovens a lutar pela transforma-ção da sociedade. Esse quadro político e social propiciou o aparecimento da canção de protesto, mas, ao mesmo tempo houve a ascensão do rock britânico através de bandas como os Beatles e os Rolling Stones.

Principais acontecimentos dos Anos 50 no Mundo

Esportes
• Realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, em 1950. O Uruguai sagrou-se campeão após vencer a seleção brasileira, em pleno Maracanã, pelo placar de 2 a 1.
• A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) organiza o primeiro Campeonato Mundial de Formula 1, em 1950.
• Em fevereiro de1951, começam os primeiros Jogos Pan-Americanos. O evento esportivo ocorre na Argentina.
• Realização das Olimpíadas de Helsinque na Finlândia (1952).
• A Alemanha torna-se campeã da Copa do Mundo de Futebol na Suíça (1954).
• Juan Manuel Fangio torna-se bicampeão mundial de Formula 1.
• Em 29 de junho de 1958, o Brasil torna-se, pela primeira na história, cam-peão da Copa do Mundo de Futebol. O evento ocorreu na Suécia.

Ciência e Tecnologia
• Em 1957, o Sputinik II coloca em orbita da Terra o primeiro ser vivo, a cadela Laika.

Comunicações
• A TV Tupi, inaugurada em setembro de 1950, é o primeiro canal de televi-são da América Latina.
• Lançamento do primeiro satélite, o Sputinik I (1957).

Guerras e Conflitos
• Começa a Guerra da Coréia em 25 de junho de 1950. A guerra termina em 27 de julho de 1953.
• Em plena Guerra Fria é assinado, em 1955, o Pacto de Varsóvia (tratado de defesa militar que envolvia os países socialistas do leste europeu, coman-dados pela União Soviética).
• Em 1959, ocorre a Revolução Cubana. O líder da revolução, Fidel Castro, torna-se presidente de Cuba.
• Começa, em 1959, a Guerra do Vietnã.

Cultura e Arte
• No dia 20 de outubro de 1951, é inaugurada a I Bienal Internacional de Arte de São Paulo. O evento é constantemente responsável por projetar a obra de artistas internacionais desconhecidos e por refletir as tendências mais marcantes no cenário artístico global: é considerada um dos três principais eventos do circuito artístico internacional, junto da *Bienal de Veneza.

Política

• Em 6 de fevereiro de 1952, Elizabeth II torna-se rainha da Inglaterra.
• Em 24 de agosto de 1954, ocorre o suicídio do presidente do Brasil Getúlio Vargas.
• Em 16 de setembro de 1955, um golpe militar na Argentina tira do poder o presidente Juan Perón.
• Em outubro de 1955, Juscelino Kubitschek (JK) é eleito presidente do Brasil.

Economia

• Criação da empresa estatal Petrobrás, em 1953.
• Assinado o Tratado de Roma, em 1957, estabelecendo a Comunidade Eco-nômica Européia (CEE).

Música
• Com muito rock e um estilo dançante, Elvis Presley começa a fazer sucesso em 1956.
• O estilo musical brasileiro Bossa Nova começa a fazer sucesso. Os maiores representantes deste movimento foram: Tom Jobim, Vinícius de Morais e João Gilberto.
• No final da década de 1950, é formada a banda de rock Beatles.

Citar Três Artistas Contemporâneos de Antônio Bandeira e Estabelecer uma Ligação entre Obras. Utilizar Capítulo: Correntes Estilísticas para Definir os Estilos


Criada em Fortaleza, em 1944, a Sociedade Cearense de Artes Plásticas - SCAP (origem remete ao CCBA - Centro Cultural de Belas Artes) tem papel destacado na afirmação da arte moderna no Ceará e também por estabelecer uma parceria entre os mais reno-mados artistas plásticos nascidos no Estado: Antônio Bandeira, Aldemir Martins, Inimá de Paula (1918 - 1999), Mário Baratta, Barrica (1913 - 1993), Jean-Pierre Chabloz (1910 - 1984) e Raimundo Cela (1890 - 1954). Além de ter revelado novos talentos, o Centro Cul-tural consolidou expressões locais, e constituiu um importante espaço para a promoção dos artistas da região fazendo um intercâmbio com os de outros estados.
A tradição paisagística inaugurada pelos pioneiros é retomada nas obras de Mário Barat-ta, Barrica e Barbosa Leite (1920 - 1997), fiéis ao figurativismo. Inimá de Paula combina a paisagem com retratos, vistas urbanas, marinhas e naturezas-mortas. Próximo a Candido Portinari (1903 - 1962), que o auxilia na execução do grande painel Tiradentes, hoje no Memorial da América Latina, em São Paulo. A estada em Paris (de 1952 a 1956) dá lugar a trabalhos que caminham para a abstração. Mas, após curta passagem pelo abstracionismo, o pintor Inimá volta às figuras e, sobretudo, às paisagens.
Aldemir Martins é talvez o nome mais popular do grupo, em função dos materiais gráficos que produz (capas de livros, discos e ilustrações) e dos objetos utilitários (joias e embala-gens) que levam sua assinatura por meio dos desenhos. Sua obra mobiliza um amplo repertório de temas e figuras do Nordeste brasileiro (como cangaceiros e rendeiras), além de explorar o colorido e as imagens nacionais da fauna e flora.
Bandeira talvez seja aquele a adquirir maior projeção internacional e reconhecimento entre os críticos. Inicia sua carreira com trabalhos figurativos, mas que procuram fugir do típico e pitoresco, como indica a tela premiada no 3º Salão Anual Cearense, Cena de Bo-tequim (1943). O período parisiense (1946-1950) representa uma guinada de sua obra em direção à abstração. Isso se dá, fundamentalmente, pelo contato com as vanguardas - sobretudo com o cubismo e fauvismo - e pela participação no Grupo Banbryols. Os críti-cos datam justamente desse período (1948) sua adesão ao abstracionismo de corte in-formal, como em Paysage Lointan, 1949.
Entretanto, o próprio artista não se via como um abstracionista. Considerava-se um “impressionista novo”. Ao contrário dos ideais dos artistas abstratos, de subtrair completamente o tema e a representação de suas obras, Bandeira reconhecia que parte dos temas reais limita-se a uma mera reinterpretação de tais temas, algo como um “novo realismo”.

Hoje se percebe que a produção artística de Antônio Bandeira é caracterizada por uma diversidade estilística. Porém, as obras que mais se destacam pertencem a corrente estilística do expressionismo por diversos motivos, entre eles, pela interiorização da criação artística, projetando na pintura uma reflexão individual e subjetiva, ou seja, a obra de arte é reflexo direto do mundo interior do artista.
Bandeira era considerado abstrato, porque se inspirava no instinto, no inconsciente e na intuição para construir uma arte imaginária ligada a uma "necessidade interior". Sabe como os grandes mestres da pintura usar as relações entre cores, linhas e superfícies para compor a realidade da obra, de uma maneira "não representacional". No quadro Amazonas Guerreando, há uma deformação da realidade para expressar mais subjetivamente, dando vazão à expressão dos sentimentos mais do que à descrição objetiva da realidade.
Bandeira também bebeu da fonte do fauvismo (corrente do expressionismo). Se formos levar em consideração os princípios do movimento, a obra Amazonas Guerreando possui algumas características desse estilo. Exemplos não faltam para afirmar isso. A tela possui uma estética que obedece aos impulsos instintivos e as sensações vitais da vida, onde as linhas e as cores lembram o estado de pureza das crianças.
Amazonas Guerreando se apresenta quase plana, obtendo apenas comprimento e largura e baseando-se na força das cores. A cor, por sinal, é utilizada para delimitar planos, criando a perspectiva e modelando o volume. Porém, Bandeira tem uma preocupação excessiva com a composição, o que o diferencia de outros artistas do mesmo gênero.
Como Van Gogh, Bandeira também experimenta aplicar a tinta diretamente na tela, onde os vermelhos, os amarelos, os verdes antecipam o gosto moderno pela cor pura. Espatuladas e pinceladas fortes e rápidas como as de Van Gogh.

4.
Interpretação


As Amazonas eram mulheres guerreiras que se estabeleciam em uma espécie de repúblicas femininas. Símbolo da mulher livre, elas repudiavam o casamento e se recusavam a obedecer ou submeter-se ao domínio masculino, almejando participar da vida pública por seus próprios méritos.
Tendo como base essa informação e observando a tela Amazonas Guerreando, percebe-se que os círculos chamam a atenção e levam-nos a pensar que eles sejam as próprias guerreiras retratadas. Vejo também uma batalha com direito a lanças, cavalos e sangue. E por que não?
Para Antônio Bandeira, a pintura é um estado de alma que extroverte os sentidos, sem outro objetivo que não seja o de comunicar um sentimento, uma emoção, uma lembrança. Com cores fortes, mostra a urgência de uma expressão livre e de uma identidade nacional. Em Amazonas Guerreando, o rígido naturalismo dá espaço a hieróglifos intricados e enigmas orgânicos. Enfim, é uma transposição de seres, coisas, momentos, gostos, olfatos que vou vivendo no presente, passado e futuro. Inspiração e transpiração dosadas de poesia e equilíbrio físico e mental.

Bibliografia


Ostrower, Fayga, Universos da Arte: Rio de Janeiro: Campus, 1983.

ARNHEIM, Rudolph. Arte e Percepção Visual: uma Psicologia da Visão Criadora Imprensa São Paulo (SP): Pioneira Thomson Learning, 2005.

Vídeo Documentário TV Assembleia: Antônio Bandeira

Sites: Museu MAUC – UFC

Google – pesquisa sobre Acontecimentos Históricos Anos 50

sexta-feira, 1 de julho de 2011

FOTOGRAFO E DESIGNER DANIEL MENDES REGISTRA PROJETO LIXO QUE SE TRANSFORMA EM ARTE


Por Eduardo Girão (responsável pela projeto)
A proposta do projeto Lixo que se Transforma em Arte é converter o lixo descartável (garrafas Pet, de vidro, madeira, ferro, alumínio etc) trazido pelos próprios estudantes em obras de arte. Durante um mês, os jovens foram sensibilizados em relação aos problemas ambientais: assistiram vídeos - inclusive ao documentário Lixo Extraordinário (VIK Muniz) -, fizeram um ECOteste no google docs (prof. Carla Freitas) sobre os conhecimentos adquiridos, participaram de aulas interativas com os professores de ciências Aquino e Isaíla, e produziram power points e maquetes sobre o tema.

Todo o material reciclável coletado foi doado a Maria Conceição Silva, catadora há mais de 15 anos. Conceição é responsável pela Associação Amigos da Natureza. Ela ressaltou a importância do projeto na formação cidadã dos adolescentes. E prometeu voltar em agosto quando a comunidade escolar se reúne para a Semana Cultural - mais materiais recicláveis serão coletados e doados.
O fotógrafo designer Daniel Mendes também esteve presente registrando o trabalho artístico dos garotos. Daniel fez questão de se engajar na causa social e demonstrou sintonia com os estudantes fotografados. Uma exposição de fotos acontecerá no pátio da escola em agosto, logo após o período de férias escolares.

Em Lixo Extraordinário, Vik Muniz utilizou um retroprojetor para facilitar a composição do quadro. A sombra formada do desenho pelo aparelho ajudou o artista a criar as obras. Ele também contou com a ajuda dos catadores que, além de servirem de modelo, ajudaram na confecção dos quadros. Na Escola Honório Bezerra, os alunos desenharam no Laboratório Escolar de Informática figuras com giz que simbolizam a paz e depois cobriram com o material reciclável trazido por eles mesmos. Claro que essa experiência foi menos profissional, porém enriquecedora do ponto de vista pedagógico.